A Marginal tem sido minha companheira inúmeras vezes e ajuda-me a espairecer quando mais necessito, principalmente à noite. O trajecto é quase sempre o mesmo, entre Parede e Lisboa e vice-versa. Nesses alguns quilómetros, sempre acompanhado pelo rio (e posteriormente pelo mar), ofereço-me tempo e espaço. Deixo-me embalar por diversas sensações e pela maresia que teima em abraçar-me com força. E eu deixo. Não raras vezes, lamento que a viagem se revele curta para a minha necessidade. Mas não me posso queixar!
Já a Morte é outro tema. É outra conversa. Sim, temo a Morte mas não temo morrer. Ou seja, temo pelos que ficam, pela saudade que certamente fica e temo pelo eventual sofrimento e/ou decadência final. O meu temor justifica-se, certamente, pelo facto de ter já experimentado a perda de pessoas que amo, pela falta que senti e sinto deles todos os dias, pelas saudades imensas e por já ter assistido a uma morte sofrida. Já assisti à decadência final também. E, caraças, assusta-me sempre. Porque deu-me a noção que muitas coisas acontecem sem sermos tidos nem achados, simplesmente chegam sem avisar. Tantas coisas que não dependem de nós... Isso mete-me medo, por mais que possa encontrar uma explicação lógica. Eu preciso de pessoas que cá não estão e tenho de arranjar alternativa. É mesmo assim. Mas não temo morrer, pois acredito que continuamos vivos mas de outra maneira, numa outra dimensão. Acredito na reencarnação. Acredito que estamos neste planeta por brevíssimos instantes e que retornaremos sempre ao plano espiritual. Talvez outros com a minha fé e crença se sentissem mais confortados que eu, talvez eu dê demasiado importância a coisas menores, não sei. Talvez esteja a ver as coisas apenas da perspectiva de quem fica mas é esse o meu estado: estou aqui e morrem pessoas que eu conheço e de quem gosto muito. Quando chegar a minha hora não queria causar tristeza a ninguém. Não gosto desta intimidade que vou tendo com a Morte, essa pessoa que vamos encontrando ao longo da nossa vida e a quem vamos estando habituados. Principalmente não gosto de ser privado de conversar, rir e aprender com quem quero. E eu quero tanto...
1 comentário:
very cool.
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